CRÍTICA: Zodíaco (2007) - David Fincher
- Gabriel Zügel Zeidan
- 17 de ago. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 22 de ago. de 2020
A maior deficiência de “Zodíaco” se encontra em seu próprio diretor, David Fincher, que suprime as qualidades do filme, com seus movimentos estilísticos de “autorzinho”, para criar uma obra que deixaria qualquer leigo boquiaberto com os movimentos excepcionais que este “gênio” consegue fazer com a câmera.

A zenital pomposa.
Existe uma tendência no cinema contemporâneo, que ocorre com os Tarantinos da vida, que é o cineasta tentando ser maior que sua obra, ou seja, apropriando-se de todos os elementos que o elevaram a determinado status, e abusando dos mesmos em obras subsequentes. Não que uma obra estilizada seja, de alguma maneira por si só ruim, longe disso, porém cada obra possui uma essência, e a necessidade de Fincher em chamar a atenção através de seus movimentos ultra-formalistas ou sua montagem mega-fluída toma espaço do que realmente é relevante na obra.
No caso deste filme em específico, tal essência seriam as consequências que o serial killer causa em cada membro da investigação: Robert Graysmith, com sua insaciável necessidade em descobrir o responsável pelos crimes, talvez como um escapismo de sua própria auto-imposta irrelevância; Dave Toschi como o investigador responsável pelo caso insolúvel, que da mesma forma que Graysmith, possui uma constante assombração o perseguindo por sua incapacidade de solver tal mistério; e por fim, Paul Avery, o pomposo jornalista que confronta o assassino em diversos momentos, mas vai à ruína financeira e moral, antes que pudesse sequer tentar apropriadamente a revelar a verdade. O grande Ás do filme são estas figuras, a exploração dos inevitáveis demônios que todos enfrentam, para tentar alcançar o inalcançável, que é o Zodíaco. Em alguns momentos, Fincher deixa sua megalomania de lado, e realmente deixa o filme tomar seu curso natural, e conseguimos adentrar da psique dos investigadores, mas isso nunca é definitivo, e os mesmos vícios retornam.
Às vezes, tenho a impressão que o Fincher ainda acha que está dirigindo videoclipes, pois há uma necessidade maniqueísta em estilizar absolutamente tudo, causando efeitos opostos aos que ele deseja criar, o que primeiro vem à mente, por exemplo: o primeiro assassinato que aparece no filme, do casal do carro, em que o assassino alveja os dois, há uma necessidade em adicionar uma trilha sonora agitada, e a câmera precisa enaltecer o ato com o enquadramento em plano detalhe do cano da arma fumegante, um slow motion barato das vítimas morrendo, e tudo me parece o básico que um aluno do terceiro semestre de áudio-visual pensaria, o mesmo que coloca o Tarantino e o dito cujo Fincher, no status de melhores cineastas do mundo, o que é simplesmente ridículo. Não há espaço para a obra se desenrolar apropriadamente, mesmo esta possuindo outras qualidades.

A estética de videoclipe que não choca, apenas ridiculariza.
Até o momento, sei que passei apontando os aspectos negativos da obra, mas ela possui seus momentos interessantes, quando o cineasta permite que ela tenha. Fincher consegue criar uma atmosfera de suspense bem interessante, no segmento em que Graysmith está repassando pelos ocorridos, com todos que já haviam se desinteressado pelo caso, ou quando os detetives vão interrogar Arthur Leigh, interpretado por John Carroll Lynch (o melhor do filme, sem dúvidas), ali realmente há uma carga naturalista, em que esta figura peculiar esta sob a mira das mentes por trás do caso, e o jogo de gato e rato se desenrola, sem o Fincher tente pesar sua mão.
Zodíaco é uma lição, de como um cineasta cheio de si, pode quase arruinar algo que já basicamente nasceu para ser contado no cinema.
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