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CRÍTICA: Amor à Flor da Pele (2000) - Wong Kar-wai

  • Gabriel Zügel Zeidan
  • 25 de jul. de 2020
  • 2 min de leitura

O romance é um dos principais temas do cinema desde seu primórdio, e mais de um século depois dos primeiros experimentos cinematográficos, continua sendo de extrema popularidade. Estes filmes vêm e vão, alguns chamam certa atenção, outros apenas passam despercebidos por total convencionalidade. Agora, em “Amor à Flor da Pele” contempla-se um dos inúmeros atestados, que aponto em muitas de minhas críticas, sobre a irrelevância de temas e roteiros, quando se há uma mise-en-scène que articula a ideia da obra.


O longa-metragem de Wong Kar-wai logra em sua tarefa de retratar este romance complexo em um visual embasbacante. Há total consciência da complexidade emocional que cerca as personagens, e todo o cenário envolta clama por atenção, sendo tão, quiçá mais, chamativo que o par. A obra é pura e simplesmente atmosférica, evidente que há uma trama digna de atenção, porém, o que mais salta aos olhos, indubitavelmente, é esta construção sensorial do cineasta.



Quando penso na mise-en-scène de “Amor à Flor da Pele”, o que primeiro vem à mente é o incrível uso de espaços. A maneira como as personagens estão constantemente enclausuradas por espaços minúsculos, sendo oprimidas por um mundo pequeno demais, a começar pelo prédio onde moram, que é abarrotado de moradores impertinentes, e repleto de corredores estreitos, que duas pessoas não passariam se não se espremessem. E é nesta conveniência arquitetônica que há o primeiro contato entre o par do filme.


Além do interessante uso de espaços estreitos, há também cenas em que Wong Kar-wai cria uma barreira entre seus protagonistas, ou entre a câmera e os mesmos. O que me vem à mente é o momento em que há uma grade chamativa em evidência, justamente em primeiro plano, que nos separa dos dois. Porém, não é apenas de distanciamentos que se constrói o filme, quando Chow e Su estão próximos, conversando sobre a história que estão escrevendo, o uso do reflexo de ambos diante de um espelho, que por vezes está junto, mas também é separado a mercê do cineasta.



Um, dos muitos, traços que mais me impactou fora a excepcional trilha sonora, esta que é um dos elementos que mais condizem com a situação deprimente do par. Um arranjo melancólico de violinos composto por Shigeru Umebayashi, que ilustra a rotina das personagens, apresentadas através de uma montagem paralela, que retrata o distanciamento de ambos, e o sentimento que este fato acarreta. E a outra canção, completamente divergente da aura depressiva que a música de Umebayashi revogava, é a sensual “Quizás, Quizás, Quizás”, um atestado da união e do desejado enraizado entre ambos.


Há um único momento em que a câmera se liberta de seus protagonistas, que é após Chow revelar seu segredo a um buraco em cima de uma montanha. A mise-en-scène, que até o momento mantinha-se em constante vigília ao par, conquista sua independência, e a câmera permanece no templo que o homem deixou seu segredo. O motivo, é que ela não estava interessada nos indivíduos, por assim dizer, e sim na relação, e junto ao que jamais será contado, ficou para sempre nas montanhas.


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